Esse projeto nasceu de uma vontade minha de escrever para crianças sobre o tema "medo". Mas não queria que esses medos fossem aqueles clássicos: escuro, fantasmas e assombrações, monstros no armário ou debaixo da cama. Por outro lado, não queria também medos terapêuticos: a morte dos avós, a separação dos pais. Queria uns medos "estranhos", aqueles que ecoam dentro da gente ainda na vida adulta, medos que nascem de assuntos "desconfortáveis" que, por serem metafóricos e simbólicos, podem gerar angústia não só quando somos pequenos.
Perguntei para amigos: "Do que você tinha medo quando era criança?" Em geral, as pessoas lembram pouco. Comecei a escrever então a partir de um medo meu - esse de "perder pedaços". Criança um pouco séria e muito tímida, eu me preocupava com uma possível 3ªGuerra nuclear, mas também com mutilações. Eu via pessoas pela rua e tinha a impressão de isso não ser, afinal, tão raro assim: cotocos, mangas de camisa e pernas de calça vazias. Podia ser problema de nascença, doença, acidente.
Mas e se acontecesse comigo?!
Na minha lógica de criança, a vida podia ainda ser longa e acontecer muita coisa - nem sempre boa. Lembro de ensaiar escrever um pouquinho com a mão esquerda, de pensar na evolução das próteses. Isso tudo tinha um pouco de Steve Austin, o homem de 6 milhões de dólares, e Jaime Sommers, a mulher biônica. Hoje, 6 milhões nem parece tanto dinheiro assim, mas felizmente Lindsay Wagner continuou a ser uma mulher muito bonita. Hoje, acho que as mutilações são mais preocupantes quando são de outra ordem: as emoções e os sentimentos, a capacidade de se entregar para a vida e as pessoas, de compartilhar. Somos aparentemente tão sólidos, mas tão frágeis!.....
Um dia, falei da vontade desse livro para a amiga Juliana Gomes que pensou no outro amigo dela - Miguel Anselmo, artista de talento de sobra. Foi ele quem trouxe a poética e belíssima ideia dos azulejos, desse paradoxo entre solidez e fragilidade em algo tão cotidiano por um lado, mas também de uma tradição artística tão valorosa por outro.
Inscrevemos o projeto no edital do ProAc e aqui estamos - o blog e a página no Facebook são formas de compartilhamento do processo, janelas para a interação.
Agradeço ao ProAc pelo reconhecimento, pelo necessário incentivo para a criação e experimentação.
Que um livro então se faça!.....
Eda Nagayama
fevereiro/2015
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